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segunda-feira, 3 de março de 2014

Displasia Coxo Femural

GUIA PARA O CRIADOR E PROPRIETÁRIO DE CÃES 

 
A displasia é uma doença que afeta a articulação coxofemoral. Esta articulação é formada pela cabeça do fêmur e a cavidade acetabular dos ossos da bacia, e é responsável pela transmissão das forças da coluna vertebral pelo membro posterior até ao solo quando o animal anda ou corre. Para que esta articulação funcione corretamente é necessário que exista uma coaptação perfeita das duas superfícies ósseas (redonda da cabeça do fêmur e côncava do acetábulo), mas também resistência dos tecidos moles envolventes como a cápsula articular, ligamento redondo (liga a cabeça do fêmur ao acetábulo, tal como a cápsula articular), músculos e tendões que envolvem a articulação. 

O que é a displasia? 

A displasia é uma doença de biomecânica de desenvolvimento, isto é, o animal nasce normal, mas durante os seus primeiros meses de vida as articulações coxofemorais sofrem alteração na sua forma devido à falta de coaptação entre as superfícies ósseas originando deformação da cabeça do fêmur. A falta de congruência articular origina artrose o que em muitos casos é responsável pela dor e consequente claudicação dos animais. A falta de congruência das superfícies ósseas articulares deve-se a um processo de maturação mais rápido do esqueleto relativamente aos tecidos moles (músculos, cápsula articular, ligamentos) o que faz com que exista lassidão (falta de resistência) destes e consequentemente incapacidade para manter o contato normal entre as superfícies ósseas da articulação. Esta falta de resistência dos tecidos moles envolventes da articulação origina precocemente sub-luxação articular (cabeça do fêmur mal encaixada na cavidade acetabular) e posteriormente lesões de artrose.



Quais as causas da displasia? 

A displasia é uma doença hereditária e genética, embora alguns fatores ambientais possam contribuir para uma maior expressão da doença em animais com genes para a displasia. Para o desenvolvimento da doença é necessário que o animal tenha genes para a displasia. Não se sabe ao certo quantos genes estão envolvidos, mas sabe-se que são muitos, por isso é denominada de doença poligênica. Nas doenças poligênicas quanto maior for o número de genes alterados herdados dos progenitores mais marcada será a doença nos cachorros. No entanto, a questão não é tão simples uma vez que alguns dos genes se combinam aleatoriamente e não de forma aditiva, embora num número muito reduzido. Os fatores ambientais como excesso de peso, ração hipercalórica, curva de crescimento muito acentuado, chão escorregadio e liso, excesso de minerais como o cálcio, excesso de exercício, contribuem para exacerbar as alterações, mas não são a causa da doença. 

A displasia aparece com igual prevalência em todas as raças? 

A displasia é uma doença que aparece mais frequentemente em raças de cães médias e grandes, embora possa ocorrer em qualquer raça. As raças mais predispostas são por exemplo S.Bernardo, Bulldog, Terra Nova, Retriever do Labrador, Golden Retriever, Mastins, Pastor Alemão, Serra da Estrela, Rafeiro do Alentejo, Shar-Pei,Samoieda, Akita, Setters, Cão Boieiro Suiço, Rottweiller, Dobermann, etc. As raças pequenas são também atingidas embora pelo seu peso corporal em muitos casos não manifestem sinais clínicos da doença.




Qual a importância de radiografar o meu animal? 

Não existe nenhum teste genético para despistar um animal portador de genes para a displasia O exame radiográfico, é hoje em dia considerado o meio de diagnóstico que melhor permite despistar os animais que não tendo sinais clínicos de displasia, têm, no entanto lesões compatíveis com a doença, sendo essas lesões um marcador da presença de genes para a doença. Os animais devem ser radiografados aos 12 meses para raças médias e grandes e 18 meses raças gigantes. O Samoieda sendo uma raça de médio porte deve ser radiografado aos18 meses. A partir dos 5-6 anos de idade a avaliação torna-se mais difícil uma vez que podem existir lesões de artrose não relacionadas com displasia da anca. Por isso, para efeitos de despiste de displasia dever-se-á evitar submeter radiografias de animais a partir desta idade.

Raio X de um cão isento de displasia coxofemoral

 Raio X de um cão com displasia coxofemoral

Porque anestesiar o animal para realizar o exame radiográfico? 

A anestesia geral permite um relaxamento muscular total e dessa forma consegue posicionar corretamente o animal para o exame. Caso contrário terá de repetir várias vezes à radiografia até obter um rx de boa qualidade. Sem um posicionamento correto é impossível atribuir uma classificação à radiografia. Por outro lado, o relaxamento muscular permite observar a lassidão da articulação com maior facilidade e dessa forma ser mais precisos na avaliação.

Qual o significado dos diferentes graus da classificação da displasia? 

Os graus atribuídos na classificação da displasia são os graus definidos pela Federação Cinológica Internacional e que se identificam por letras: A, B,C, D, E. Os graus A e B são animais sem sinais radiográficos de displasia, os graus C, D, e E correspondem a animais com sinais de displasia. O grau C corresponde à displasia ligeira, o grau D displasia moderada e o grau E displasia grave.

Quais os graus de displasia que posso usar na reprodução? 

Em princípio só deveríamos utilizar na reprodução animais com graus A e B. De fato só esses permitiriam reduzir significativamente o número de genes para a displasia. No entanto, algumas raças o nível de displasia é tão elevado que se eliminássemos todos os animais com grau C ficaríamos com um conjunto de reprodutores muito limitado. Nestes casos pode utilizar-se um dos progenitores com grau C embora o outro deva ser A ou B. Esta é uma exceção, não deverá ser a regra.



Qual a importância de reduzir a prevalência da doença? 

Se utilizarmos na reprodução animais com displasia a doença perpetua-se com uma intensidade crescente devido ao efeito majoritariamente aditivo da combinação dos genes e consequentemente animais com sinais mais marcados. Isto tem repercussões individuais pelo sofrimento do animal envolvido e dos seus proprietários, maiores despesas associadas à terapêutica e muitas vezes perdas de animais com características excelentes em termos de beleza ou trabalho. Por outro lado, em termos populacionais de uma raça conduz inevitavelmente ao retrocesso em termos de características da raça e um esforço posterior muito maior para obter animais sem sinais de displasia.



Qual a importância de se conhecer os graus de displasia nos animais presentes num pedigree? 

O reconhecimento do grau de displasia até à 3ª ou 4ª geração de um pedigree é muito importante porque isso dá-nos a percepção do grau de probabilidade de ocorrência de animais com displasia. Se eu dispuser de um cão classificado com grau B proveniente de pais e avós com graus A e B provavelmente este animal disporá de muito poucos genes para a displasia. Se pelo contrário eu usar um reprodutor (macho ou fêmea) com grau B, mas com alguns dos antepassados com grau C e D a probabilidade de obter cachorros com displasia é francamente maior.




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